Obesidade Infantil - Entrevista publicada no site msn.com.br
Pais neuróticos, filhos gordinhos: como os exageros dos pais influenciam o comportamento dos pequenos
Pais obesos podem trazer danos à alimentação das crianças assim como pais excessivamente preocupados podem prejudicar a relação dos filhos com as refeições. Os pequenos enxergam os pais como um espelho, principalmente nos primeiros anos de vida, quando há uma maior influência do meio em que vivem. A nutricionista funcional Juliana Bueno explica essa relação.
Logo no início da vida, os pais criam os hábitos alimentares dos filhos. “A alimentação de quem mora junto é a referência para a criança. Ela vai achar que a alimentação adequada é aquela apresentada dentro de casa”, explica Juliana. Por exemplo, um pai que não come de forma saudável passa uma imagem irresponsável em relação à comida para os filhos. A nutricionista lembra de casos que já tratou, em que o problema não estava somente na criança mas, também, na família. “O pai toma refrigerante, como o filho não vai tomar também?”, questiona. Dessa forma, é necessário tratar os pais, para depois cuidar dos pequenos.
Quando se trata de um exagero com os cuidados, cria-se o oposto do comer bem, pois a criança fica com raiva da rigidez em relação à alimentação. “Esse filho, por mais que ele entenda que é importante, não vai comer adequadamente, porque a pressão está muito grande. O trabalho deve ser natural”, ensina. Para isso, os pais devem estimular os pequenos a experimentarem e serem abertos a novos alimentos desde cedo.
Gisele Pontaroli Raymundo, professora do curso de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que os pais podem dosar a preocupação com a saúde das crianças entendendo as características alimentares de cada fase da infância e, principalmente, sendo bons exemplos para os pequenos: “As crianças imitam as atitudes dos pais em muitos aspectos: maneira de falar, de se comportar, hábitos diários e alimentação. Não adianta querer convencer uma criança a comer salada de alface, por exemplo, se os pais não comem.”
Na hora das refeições, os pais precisam ter domínio da situação e não fazer todas as vontades das crianças. “As crianças não podem comer somente aquilo que elas querem, elas precisam ser educadas e ensinadas da importância do consumo dos alimentos, sem brigas, sem violência nem chantagem. Novamente o exemplo é o melhor caminho”, salienta Gisele. Pode-se comer guloseimas, mas é preciso moderar a quantidade. “O exagero de qualquer espécie pode levar a criança ao estresse e suas consequências para a saúde. Exagero nos cuidados de saúde, nos cuidados com alimentação, com exigências em relação à criança com estudos ou atividades extra classe é sempre ruim”, explica a professora.
Juliana, nutricionista há oito anos, conta que foi uma criança quase obesa aos dois anos de idade. Naquela época, tinha o hábito de comer tudo em grande quantidade, como duas bananas por dia, o que não era adequado. Sua mãe, então, pediu ajuda ao pediatra. “Minha mãe sofreu muito porque não podia dar a segunda banana. Ela chorava por não poder me alimentar na quantidade que eu queria. Mas hoje eu agradeço imensamente por ela ter tido essa atitude, mesmo gerando um sofrimento na época. Talvez eu tivesse compulsão alimentar ainda, talvez eu não estivesse da forma que estou hoje”, lembra Juliana.
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